TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE N'O MEGAFONE
Apropriar-me do célebre título de Dostoiévski parece-me razoável para delatar a morna passividade discente que nos torna tanto criminosos quanto castigados. A irresponsável isenção da parte dos universitários, salvo isolados grupos de agudo bom senso, referente às discussões do REUNI, compromete as bases já abaladas da realidade acadêmica pública.

À mais modesta análise, pode-se tatear os relevos de um projeto precário que prevê de maneira desordenada o alargamento das vagas nas salas de aula, investimentos paliativos do Governo Federal nas universidades públicas, além de pretensões à taxa de 90% de aprovação dos estudantes – medida que não é senão eufemismo de aprovação automática – filme este conhecido de todos nós, que mascara a realidade de analfabetos funcionais pelo Brasil afora.
Precisa-se, portanto, de uma movimentação estudantil, que não é individual, mas coletiva e abrangente, para discutir mais um projeto que é de eficiência contestável (para ser devidamente polido) e, paradoxalmente, inflamável à debilitada saúde do ensino público brasileiro. De maneira preocupante, uma postura abstencionista tem nos tornado principais personagens da passividade inaceitável que nos fará réus confessos: a qualidade ou não da educação pública depende também da nossa voz. Calarmos nos ratifica responsáveis pela decomposição iminente, participantes e concordes do descaso com a qualidade do ensino público.
É evidente que é preciso aumentar o acesso aos cursos superiores, estender o ensino qualificado ao maior número de pessoas possível, investir na escolaridade da população brasileira. No entanto, essas iniciativas devem ser tomadas de maneira responsável e conseqüente, tendo à vista a manutenção e o progresso da qualidade educacional, iniciativas que não comprometam as tímidas conquistas alcançadas a passos curtos pelo Governo.
Omissos e complacentes, seremos não mais que criminosos libertos e disfarçados de estudantes, alheios aos castigos inevitáveis e reais que nos desnudam os corpos inertes. Toda Nudez Será Castigada.
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