quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O público na privada

POR DIEGO OMAR • MESTRANDO EM HISTÓRIA
TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE N'O MEGAFONE, Nº 1.


Há sempre alguém para dizer que todos nós temos responsabilidade sobre a Universidade Pública, que por ser pública ela deve ser gerida de forma conjunta, colegiada, de uma forma que favoreça a participação de todos... mas quando esses assuntos públicos entram em meu “cadinho de chão”... chega: enfiamos o público na privada (!) ou tratamos de assegurar nosso direito (quase) privado sobre o público.

Que ninguém dê muita validade nem atenção para aqueles que vivem chamando a atenção para o fato de que “a responsabilidade é de todos” já é difícil de aceitar, mas que queiram agora enfiar essa máxima no ralo, ops... na privada, é algo que nos motiva uma reação.

Há mais de cinco anos a Universidade vem ensaiando um estatuto para as repúblicas federais de Mariana (as Moitas) que nunca saiu do papel... um processo marcado por um misto de incompetência, falta de decisão e resistências, mas sobretudo por uma confusão terrível que atravessa nossa distinção entre o que é público e o que é privado. E temos então que afirmar o óbvio: é preciso um estatuto não apenas porque as repúblicas são públicas (e isso já beira o trágico e não o poético), mas porque é preciso criar uma consciência de que aquilo pertence a todos.

Não dá mais para criticar o pandemônio das repúblicas federais de Ouro Preto (cujos critérios de admissão são malucos e servem pouco aos que mais precisam) se nos negamos a entregar os critérios de admissão à Universidade e se os alunos que residem em espaços públicos sequer aceitam declarar que residem nesses espaços públicos, e não aceitam se submeter a regras de conduta públicas, pautadas em um estatuto que é igualmente público.

Longe de ser repressivo, isso é necessário. E é impressionante que, mesmo sendo de uma geração que não viveu na pele a ditadura, estejamos ainda tão impregnados com um ranço autoritário que vê em toda normatização uma camisa de força. Sem ilusões... é preciso mudar a nós mesmos se queremos mudar os outros... e durante muito tempo criticamos as repúblicas de Ouro Preto sem sequer olhar para aquilo que nos era tão próximo, tão familiar. Que o estatuto das Moitas é um passo a frente na delimitação e conscientização de que aquele é um espaço público, “óbvio ululante” diria Nelson Rodrigues; mas é preciso ir mais longe, pois a responsabilidade sobre este estatuto (e isso nos parece essencial afirmar) “é de todos”.

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