Mariana não é um dos piores lugares para viver, exceto pela falta de escrúpulos de nossos especuladores imobiliários. É cada vez mais difícil morar de aluguel numa cidade em que o espírito explorador dos primeiros povoadores da terra ainda sobrevive na manha gananciosa dos contemporâneos que sugam os salários de inquilinos desavisados.

Não somos as únicas vítimas da cobiça de indivíduos que vêm na especulação uma forma de tirar proveitos materiais, mesmo à custa da angústia de outros indivíduos. Conhecemos não apenas casos de estudantes que tiveram que transferir suas repúblicas de imóvel pelas exigências de proprietários insaciáveis, mas sabemos de famílias inteiras que tiveram que acatar os desmandos covardes para devolver aos seus donos os espaços de onde extraem suas rendas mensais, a fim de que eles operem essa lógica insana e desumana da especulação. Em nossa jornada, procurando uma nova casa após receber o aviso de despejo, deparamo-nos com várias histórias semelhantes. Nessa procura, além de tudo, não era nada difícil encontrar casas péssimas, mal localizadas, descuidadas e com uma série de danificações e prejuízos perceptíveis ao primeiro correr de olhos. Invariavelmente, como se os problemas estruturais fossem insignificantes, os preços eram absurdos.
Sabemos que a situação atual é resultado direto da expansão das mineradoras, cuja demanda de serviços traz várias empreiteiras e trabalhadores de fora para cumprir serviços temporários. O duro é saber que a foice da ganância, cujos alvos são as grandes empresas que buscam abrigar seus funcionários durante a empreitada, abate também inumeráveis famílias, trabalhadores e jovens estudantes que, nativos ou não, buscam em Mariana oportunidades e qualidade de vida.
A tragédia deve prosseguir até 2010, prazo para conclusão dos projetos expansionistas? É o que dizem! Enquanto isso, aqueles que detêm a propriedade de imóveis disponíveis para locação optam por elevar os preços de suas casas a níveis estratosféricos na crença incontestável de que empresas alienígenas possam topar o negócio. Preferem isto (mesmo sabendo as conseqüências danosas para o seu patrimônio e sua consciência) a manter o preço real, que poderia atrair inquilinos duradouros e bons pagadores. Estes engolem a seco aluguéis que superam em muito os R$10,00 por metro quadrado construído, média praticada somente nos centros urbanos que apresentam os mais elevados custos, como São Paulo e Brasília.
Estamos pagando o preço do progresso da cidade? Ou ainda vivemos no mundo daqueles que primeiro chegaram às lavras do Ribeirão do Carmo para explorar a terra e obter riqueza fácil pelos braços alheios?
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