POR DIEGO OMAR • MESTRANDO EM HISTÓRIA
TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE N'O MEGAFONE
Alguém disse outro dia que a batalha do Departamento de Letras por um currículo que inclua o bacharelado começa a parecer a Guerra dos Cem Anos... acho que erraram o alvo... pois o que dizer então das discussões sobre as moitas... seria ela semelhante ao Mediterrâneo de Braudel (?), a macro Idade Média do Le Goff (?). Não sei... mas a sensação que paira no ar é que o travado processo divide, como na renascença, um grupo que busca a mudança e outro que gosta do entrave. Há quase uma década, a discussão sobre o estatuto das moitas é, num exemplo mais próximo, um "retrato do Brasil"... tudo está emperrado e os que emperram o processo o fazem baseados na desculpa manca de que... "ou se muda tudo ou se deixa tudo como está". Sabem, isso lembra a bancada do PSDB no Congresso: emperram a pauta e reclamam da morosidade, adoram votar o próprio aumento salarial e dizem execrar a indecorosa política nacional.
O argumento de que a discussão sobre as moitas só diz respeito a quem mora lá é indecoroso, porque está baseado no preceito de que só quem faz uso imediato do que é público pode opinar sobre as políticas públicas que, por princípio, devem contemplar toda a sociedade civil. No mais, o discurso de que os que lá residem fazem quase um favor à Universidade, pois tudo lá é muito precário e deficiente, é uma muleta que escora diversas iniciativas mal sucedidas da Universidade em criar uma forma de gestão das repúblicas que contemple tanto os alunos que mais precisam quanto a necessidade de se criar um espaço público normatizado, o que não é nem esdrúxulo, nem autoritário, mas um passo a frente na consolidação de uma universidade que é publica e que se quer moderna.
Devemos ter em mente, em primeiro lugar, que esta normatização é essencial para colocar a UFOP em dia com as políticas de assistência estudantil de todas as outras universidades do Brasil, para as quais nossos critérios (ou a falta deles) aparecem como uma aberração. Em segundo lugar é preciso ter clareza que este debate diz respeito a toda a comunidade univer-sitária e não apenas aos que lá residem, pois só a comunidade pode assegurar agora através do voto que qualquer aluno que declaradamente precise possa ter acesso à moradia estudantil. Em terceiro é inaceitável que pensemos que, porque hoje as coisas funcionam minimamente bem (como alegam alguns moitanos), sempre funcionaram ou funcionarão assim. A falta de critérios um pouco mais objetivos para a escolha dos moradores sustentou historicamente os abusos cometidos por diversos moradores das repúblicas federais de Ouro Preto, que, com a invenção de suas tradições, justificam agressões aos direitos de uma maioria que permanece calada e alheia a esta questão.
Desde que a CAC foi criada, o debate é sempre conduzido num irritante discurso conciliador que tem tornado evidente a falta de vontade da reitoria e dos grupos hegemônicos da UFOP de que esta situação mude. A pouca determinação e parca vontade política impede que uma nova forma de administrar e ocupar as repúblicas seja encontrada. É o atraso que persiste... e quanto mais o tempo passa, mais ridículos e obsoletos parecemos. O pior é que a falta de debate que é uma realidade até mesmo entre os moradores das moitas torna esse atraso ameaçador. Quem perde com ausência de critérios claros de admissão dos novos moradores das moitas são as futuras gerações de estudantes do ICHS, mas quem é responsável por transformar essa situação e preparar um futuro em que algumas coisas sejam menos obscuras do que no presente somos todos nós. Além disso, essa é uma oportunidade rica de construirmos juntos um espaço de debate, onde o público não seja apenas uma instância de que se pode cobrar algo, mas sim um espaço aberto, dialogado e comunicativo de construção e exercício de cidadania.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Quando o atraso persiste... e ameaça vencer...
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