quinta-feira, 17 de abril de 2008

Cara à tapa! - O Signo da Cidade

Não sei bem de quem foi a idéia de convidar-me para escrever neste blogue tão sério. Apesar de não entender bem como se convite se deu, eu agradeço muito às almas gentis que o fizeram. Porém, a dúvida era: o que escrever? Pensei seriamente em reivindicar a minha tão devaneada coluna social (ou seja, fofocas mesmo, do tipo, chulas e irreverentes). Mas acho que isso deverá ficar para um outro que por perto do “mucovuco” vive ainda. Brincadeiras nostálgicas à parte, acabei por optar em fazer usar este espaço para falar um pouco de entretecimento, o que acham da idéia? Queria mesmo saber se é bem vindo tal categoria neste lugar, então, por favor, escrevam, comentem os posts, ok?

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O Signo da Cidade (2007, cor, 95 min.)

“Entre todas as cores de uma cidade, o cinza nunca foi tão evidente”

É difícil ver um cenário noturno com tantas cores, principalmente quando se retrata uma São Paulo contemporânea. Sem tocar nos pontos mais comuns, ou seja, sem mencionar Vila Madalena, a estação da Luz, Avenida Paulista e tantos outros Bruna Lombardi nos leva, através de seu roteiro, à uma São Paulo solitária e individualista, onde pessoas banais, em suas vidas banais, procuram uma luz, uma estrela que brilharia por eles, pois por lá, nem os barulhos dos congestionamentos parecem servir de fuga da solidão.

Dirigido por Carlos Alberto Ricelli, de forma poética e crua, somos obrigados a depararmo-nos com figuras urbanas que não nos remete aos clichês paulistanos. Não são os banqueiros, empresários, políticos corruptos ou os ricos, tampouco freqüenta-se como cenários do longa os ambientes daquela então alta sociedade... Conhecemos, porém, uma astróloga (Bruna Lombardi) que, ao tentar ajudar as pessoas, acaba por defrontar-se a fragilidade de cada um, e a dela mesma. Quartos escuros e imundos apresentam-nos uma mãe com grave depressão, uma jovem que acabou de abortar e está praticamente morta, um casamento em crise, um jovem travesti negro, um jovem suicida e tantos outros personagens, que se entrelaçam neste drama tão bem construído.

Sem dúvida o filme perpassa uma dicotomia: solidão e solidariedade. A fragilidade retratada não se encontra apenas na personalidade de cada personagem, mas também, nas complexas interpelações dos personagens que geralmente são no silêncio dos gestos e palavras soltas de repulsa. O signo da Cidade mantêm picos de tensão muito interessantes, onde vontade, desejo, paranóia e depressão se fundem com sonho, esperança e confiança.

Tratar de tantos pequenos grupos na feiúra dos cantos paulistanos, sem com isso, mistificá-los ou exagerar os seus detalhes para então empurrar um conceito estético caricatural, em um tempo tão reduzido como o de um filme, é um trabalho um tanto quanto arriscado se não bem tratado. O signo da Cidade, porém, foi muito feliz em sua excepcional linguagem. Não se percebe desvios, a trama segue em um ritmo médio, com picos dramáticos, mas sempre contornados por uma leveza de palavras nos diálogos inteligentes entre as personagens, o que soma com a fotografia crua. Percebe-se que, mesmo entre o alaranjado e todas outras cores da noite suburbana, a densidade da trama faz com que a densidade de um cinza imagético tome conta até das cenas diurnas, contrapondo-se, contudo, à casa da astróloga, colorida, animada, mesmo mantendo um tom melancólico de procura constante às questões não resolvidas, que tão bem demarcam a vida da personagem.

O filme consegue dar desfechos aos seus núcleos, apesar de não tão bem explicitada, os personagens parecem tomar suas decisões, não deixando os acontecimentos nas mãos do destino. Talvez houvesse apenas certa modéstia no elenco que, entre os mais jovens, houve uma falta de laboratório. Por outro lado, os artistas mais experientes tiveram cenas marcantes, em destaque lembro-me de Juca de Oliveira e Eva Wilma.



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